Os Olhos


Eram seis horas da manhã e o celular despertava avisando seu dono que era hora de acordar, tomar banho, se arrumar e ir para a escola. Como de costume, ele desligou o despertador e se dirigiu ao banheiro. Enquanto caminhava pela escuridão em direção do mesmo, ele notou como sua casa estava vazia: os sons de seus passos ecoavam assustadoramente em sua mente, ele sentia falta de ver seus pais correndo para cima e para baixo, tentando fazer ele e seu irmão se apressarem para irem para a escola.

Quando chegou ao banheiro, acendeu a luz (não suportava mais as trevas) e iniciou seu banho. Ele começou a se lembrar dos últimos acontecimentos e uma gota salgada escorreu pelo seu rosto. Passado este momento, ele se lembrou da idéia que tivera alguns dias atrás: ela vinha atormentando-o desde o fatídico dia que perdera seus pais, se tornara faz mais forte com a perda de seu amigo e tomara conta de sua mente quando mais um amigo seu se fora. Ele havia se decidido: iria segui-la.

Terminou seu banho e chegou à conclusão que não precisaria ir à escola. Acabou por colocar uma roupa bonita e foi em direção de seu computador e ficou ali por algum tempo até que fora interrompido por seu celular tocando. Foi até ele e viu que havia recebido uma mensagem de suas amigas perguntando-lhe o porquê dele não ter ido à escola. Acabou dando uma desculpa esfarrapada.

Ficou trocando mensagens com elas por algum tempo, quando se lembrou que deveria escrever em seu diário. Ele ficou riscando frases por algum tempo: por alguma razão lhe faltava palavras, que antes lhe vinham com facilidade. Após algum tempo, conseguiu escrever o que desejava.

Feito isto, escreveu uma mensagem particularmente longa em seu celular. Ele, no entanto, hesitava mandá-la: algo não o permitia. Por fim, mandou a mensagem. Depois disso, um risco prateado fez-se diante de seus olhos indo em direção da onde ficava seu coração.

“Está feito,” pensou ele, “agora é só esperar”. E assim o fez por algum tempo, até que começou a perder a sensibilidade das pernas. Foi quando começou a se lembrar de seus amigos e como ele acreditava que ficariam bem.

Agora, sentindo dificuldades para respirar, se recordou do que ainda não havia feito, de quem ainda não havia conhecido. Ele sentiu um estranho sentimento de angústia penetrar seu coração. Depois disso, se lembrou de seu pequeno irmão e foi quando sua visão começou a escurecer.

O desespero começou a tomar conta. “Como fui tão burro?” se perguntou. Ele tentou inutilmente respirar com mais força para conseguir chegar ao seu celular. Mas ele estava muito longe, não o alcançaria a tempo. Ele, no entanto, não desistia: se esforçava para alcançá-lo apesar das dores. Até que um momento ele conseguiu se chegar na mesa, mas no momento que ia pegar o celular, ele perdeu as forças e tombou no chão, levando junto um porta-retrato.

Dentro daquele porta-retrato havia a última foto que sua família havia tirado. Ele observava seu riso forçado, seu irmão com aquele sorriso contagiante, sua mãe sorrindo daquela maneira que apenas uma mãe sabia e seu pai, apesar das feições pesadas, aparentava estar feliz também. Ele se lembrava pesaroso do dia que a haviam tirado e como fora obrigado a tirá-la, mas ela havia ficado muito bonita apesar de tudo. E, assim, ele se deu conta que ficaria encarando eternamente seu passado, sempre desejando poder retornar a ele.

Foi quando seu olhar se vidrou e nada mais viu.

( Matheus Harth )

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