Perder


As letras perderam o significado para mim. Não consigo mais ver sentido nessas coisas que eu lutei tanto para escrever. Perdeu toda a graça, não tem mais sentido, me sinto um estranho nesse mundo a quem eu outrora pertenci. É como se tudo aquilo que eu mais gosto não pertencesse mais a mim. É estranho me sentir desnorteado, perdido. Mas é a verdade. Quero deitar, entrar num sono profundo, sem ter que me preocupar, sem abrir os olhos, e para sempre sonhar.


Ao que tudo me parece, querer dormir e não mais acordar, se tornou comum. Peço agora para isso acontecer com tanta freqüência que até quem não deveria pedir se acostumou, e já pediu. Minhas letras não se encaixam mais nesse mundo, quero retirar-me dele, quem sabe em outro eu não possa ser feliz? Eu hei de esquecer, todos os motivos, sem nem perceber, que toda a luta é em vão, não posso perder!

Perdi-me. Não tenho para onde ir. Peço agora para dormir, não mais acordar, viver em um mundo paralelo, sem parar para pensar, e esquecerei todas as promessas que fiz em vida, terei um momento de paz, (não) viverei mais num mundo de dor, não quero sentir o peso desse fardo, não sei para onde vou, peço para trilhar um novo caminho, peço para deixar este mundo e seguir adiante, tão longe quanto eu possa ir, e não pretendo voltar, num lugar desse tipo, não tenho motivos para ficar.

Enquanto meus dedos traçam as palavras que são lidas por uma tela, eu me sinto cada segundo mais preso a um mundo que eu mesmo criei e agora eu tento fugir. Não pretendia viver nele para sempre, mas acostumei-me de uma forma tão singular a viver desse jeito que agora me sufoca. Não sei aonde vou, não tenho para onde ir, não sei com quem vou, só sei que quando morrer, eu poderei enfim em paz dormir.

( Felipe Marquezelli )

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