[UNICAMP] Pardieiro

Instruções:
1. Imagine uma personagem jovem que vai estudar em outra cidade e passa a morar com os avós.
2. Narre o(s) conflito(s) da personagem, dividida entre os sentimentos em relação aos avós e as dificuldades
de convívio com essa outra geração.
3. Sua história pode ser narrada em primeira ou terceira pessoa.


Já estou aqui nessa cidade faz três anos e ainda não me acostumei. Itapeva. Posso dizer que é bem depois do lugar onde Judas perdeu as botas. Tenho absoluta certeza que ainda passo pelo lugar que ele tenha perdido o seu par de meias, e tenho plena convicção que passo também onde ele pode ter perdido as luvas. Se bem que, acho que Judas já devia estar completamente nu quando passou por aqui.

Três anos de tortura com os meus avós. Minha avó é realmente uma bruxa, velha, uma megera, por outro lado, meu avô, é bem pior. Morar com eles só me fez sentir saudades de meus pais, e olha que para isso acontecer, eu me julguei louco, no começo, pensei que eles não fossem tão ruins, mas o tempo me provou que eu não era louco, e sim meus avós seriam o meu pesadelo.

Terminei o ensino médio em uma boa escola daqui, já estou com meus 18 anos, e saio frequentemente para as minhas baladas (na verdade, quase diárias). Meus avós repugnam estes atos que eu tenho, e me deixam de castigo, sim de castigo, por chegar em casa tão tarde da noite, tarde para eles, claro, pois desde quando meia-noite é tarde para alguém que tenha realmente consciência?

Meus avós nunca deixaram me faltar nada nestes últimos três anos que passei com eles, pois é claro, eu trabalhei para eles para ganhar o meu dinheiro e me sustentar. Eles só me deram casa e uma cama, pois de resto eu fiz tudo sozinho. Lavei minhas cuecas, passei minhas roupas, fiz minha janta, e nem pensar em almoçar, se não, não ia sobrar dinheiro.

Não posso dizer que eu os odeio. Pois odiar é um sentimento fraco quando se trata deles, preferia mil vezes ter ficado na minha casa em São Paulo, com meus pais (que eu achava que eram as piores coisas que podia m ter me acontecido), e em uma escola pública, do que ficar aqui, em um lugar calmo, tranqüilo, sem movimento, onde as baladas terminam às onze horas.

Voltarei o mais rapidamente possível para o meu mundo preto e cinza da cidade de São Paulo. Freqüentarei uma faculdade decente por lá e espero jamais voltar para este pardieiro. Espero realmente não ter que voltar para cá, nem para cumprimentá-los.

( Felipe Marquezelli )

* Redação feita baseada no que a UNICAMP pediu no vestibular para 2010

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